O Sobrinho

(Inspirado no conto Missa do Galo, de Machado de Assis).

Noite de Natal, eu me revirava na cama. Francisco fora dormir com a amante, eu já me acostumara à vida de casada. Vesti camisola e coragem, e levantei-me.

Na sala, ele lia seu Dumas. Sobrinho do meu marido, fora nosso hóspede. De partida, esperava um amigo com quem iria à Missa do Galo antes de voltar à sua Mangaratiba. Tinha 17 anos; eu, bem mais.

Assustei-o? Não; acordei-a? Abanei a cabeça preguiçosamente. Apontei seu livro: Li A Moreninha, mas já sou velha para romances. Que velha o quê, dona Conceição. Palestramos. Meu olhar, minha camisola, sua respiração descompassada. Inclinei-me, aproximando nossos hálitos: Fale baixo, a velha tem sono leve. Suas palavras tropeçavam. Olhos atônitos davam botes na fresta aos pés do cristo do meu colar.

Seu amigo bateu à janela.

Gaguejou seu adeus e partiu, não sei com que impressão. Eu cá fiquei em júbilo: tinha ainda meus encantos.

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