Ambiente esfumaçado, luz violeta, paraíso de amores clandestinos.
Seu trabalho agora é servir bebidas no balcão. Ninguém nota suas olheiras nem suas cicatrizes na alma.
Circulando entre as mesas, as novas atrações da casa com seus sorrisos de luxúrias. Um casal lhe pede uma chave, paga. Vão aos prazeres.
Já não tem amores. Antigamente, seu erotismo marginal saciava desejos secretos até de honrados senhores e de insuspeitas senhoras. Hoje, os olhares lhe parecem de asco.
Um rostinho bonito lhe faz um pedido como se fosse a um caixa eletrônico. É invisível, de invisível solidão.
Quase esquece seu próprio nome; só lhe chamam pelo apelido que antigamente era sua glória, agora perece sarcasmo. Quisera gritar seu nome de batismo, ainda que em manchete policial.
O rostinho bonito vai ao banheiro.
O canivete. Teria coragem? Uma esmola de amor é amor, mesmo que à força.
Com pernas trêmulas, segue ao banheiro. Pensa na manchete. Vai tornar-se visível.