Primeiros anos dos 70 de minha meninice, noite de sábado, eu atrás do balcão da venda à espera dos últimos pingados fregueses. Pela porta que liga à sala da casa, minha tia, a dona da bodega, assiste ao mesmo tempo a mim e à novela em preto e branco – para isso é que ela tinha dois olhos. É quando assoma o sujeito, vinte e poucos anos, bem-vestido e barbeado, bigodinho ralo a lhe emprestar certa respeitabilidade.
Não é do bairro. Seus olhos se agitam na direção da rua da Glória, em cuja torre um dragão guarda sua Dulcinéia. Pede uma dose de cachaça na esperança de que o álcool lhe desinfete o nervosismo.
Vai à heroica missão de se apresentar ao pai de sua amada. Consentimento indispensável.
Diz alguma coisa sobre o novo rótulo do Hollywood, mas eu não tinha ainda idade que lhe animasse uma conversa. Monólogo de dois, gotas de sílabas apenas para testar a virilidade da voz e a firmeza dos joelhos. Verás que um genro teu não foge à luta.
O fogo da cachaça vestiu-lhe de coragem; não muita, mas suficiente. Pagou e saiu na direção do queixo. Não seria por falta de uma pinga que se iria desobedecer ao crescei e multiplicai-vos.