Quando o pecado é redentor
Narrativa curtinha para você enriquecê-la com sua sensibilidade.
Corria o ano de 1748 e ele, há vinte, na cadeia. Delito besta, a maior parte desses anos era mesmo por ser esquecido pela Justiça. Segurava o resto de esperança de liberdade em um surrado crucifixo, seu único advogado possível.
Uma noite lhe foi soprado, e ele jura que foi um anjo quem lhe soprou:
– O Visitador do Santo Ofício vem aí. Tua salvação é o pecado nefando.
– Deus me livre e guarde da Inquisição! Prefiro morrer aqui dentro.
– Tenha fé.
A contragosto, mas confiante, obedeceu: entregou-se à prática da sodomia com empenho suficiente para fazer saber ao senhor Visitador. Denunciado, foi condenado às temidas galés.
Em três anos, logrou fugir.
– Há pecados – dizia ele – que os homens punem sem autorização de Deus.
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(*) Livremente inspirado em caso histórico citado no livro Trópico dos Pecados, do historiador Ronaldo Vainfas (VAINFAS, Ronaldo. Trópico dos pecados: Moral, sexualidade e inquisição no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010, p.400).
