Tomás de Aquino e os sete Pecados Capitais.
Não é questão de religião: a ideologia dos Sete Pecados Capitais influencia muito como você pensa e age e, assim, modula sua felicidade. Presente em nossa educação desde crianças, eles
Não é questão de religião: a ideologia dos Sete Pecados Capitais influencia muito como você pensa e age e, assim, modula sua felicidade.
Presente em nossa educação desde crianças, eles nos afetam em nível inconsciente. Freando os impulsos mais naturais e enchendo-nos de culpas, espalharam infelicidade. Compõem o aparato social repressivo que Freud chama de “castradores” e que resulta em sintomas como as neuroses.
No entanto, se nossos doutrinadores os ensinassem com honestidade o que Santo Tomás de Aquino escreveu, muito infortúnio e horas de psicanálise seriam poupados à humanidade.
Os pecados capitais surgiram no século IV como código de conduta de monges entediados em mosteiros. No século VI, o papa Gregório I achou boa ideia impô-los a toda a cristandade. No século XIII, Tomás de Aquino conciliou-os com a filosofia Aristotélica que, recém traduzida pela Escola de Toledo, abalara os alicerces da Igreja. Foi canonizado por esse inestimável trabalho.
Antes de tratar sobre eles, em sua obra “Suma Teológica”, Aquino enumera as “quatro inclinações da Lei Natural”: a preservação da vida, a preservação da espécie, a harmonia social e a busca da felicidade. Para a felicidade concorrem, segundo Aquino, a busca do conhecimento, da justiça e do prazer. Em suas palavras, “as ações praticadas que visam à realização dessas inclinações naturais são ações moralmente aceitas e justificadas (o que pode ser identificado como ações virtuosas)”.
Aquino prega que esses “pecados” são nocivos apenas em excesso, pois suas práticas atendem às Leis Naturais. Por exemplo, a gula garante atendimento à preservação da vida, e a luxúria, à preservação da espécie. Atendendo à Lei Natural, ambas atendem também ao desejo de prazer, “sem o qual é impossível a felicidade”, diz Aquino.
Concordam Freud e Aquino que o prazer é força imperiosa que move o ser humano. E, embora a cultura cristã tente deslegitimar a busca pelo prazer, Aquino o define como imperioso para a felicidade.
Nas próximas semanas, veremos como Aquino e outros pensadores abordam cada um desses sete pecados: vaidade, inveja, ira, indolência, cobiça, gula e luxúria.
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Imagem: Freepic
Referências Bibliográficas:
AQUINAS, Thomas. The Complete Works of Thomas Aquinas (Catholic Publishing). Material compiled from Omaha-NE: Kindle Editions, 2018 (parte 1 do livro 2, questão 84, p.1951).
FREUD, Sigmund. Cinco Lições de Psicanálise in Os Pensadores. Tradução de Durval Marcondes e J. Barbosa Correa. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (p. 13 a 16).