A arte na formação do cidadão livre: eis por que ditaduras e protoditadores tentam calar a cultura.

Em entrevista para o Fronteiras do Pensamento, o escritor Mario Vargas Llosa, prêmio Nobel de Literatura, diz que a arte ordena o caos e nos ajuda a entender melhor o mundo que nos rodeia. Sobretudo, segundo ele, a arte refina a sensibilidade e estimula os desejos humanos, e isso é uma maneira de manter viva a vida, e de impedir que os seres humanos atuem apenas sob reflexos condicionados, como robôs.

Essa é a razão, segundo Llosa, por que ditaduras e protoditadores tentam calar a cultura e a arte, tratam como inimigos os artistas mais autênticos e tentam uniformizar o pensamento dos cidadãos, combatendo a diversidade.

O antropólogo Richard Shweder, citando Confúcio, diz que a percepção de mundo a partir de qualquer ponto de vista específico é incompleta; se olhada de todos os pontos de vista ao mesmo tempo, é incoerente; e se de nenhum ponto de vista em particular, essa percepção de mundo é vazia. Entre incompletude, incoerência e vazio, Shweder diz preferir a incompletude alternada, que se move pelos diversos pontos de vista possíveis (SHWEDER, 2002). A incompletude cria uma insatisfação própria que leva à busca de dar acabamento ao inacabado.

Ao que Paulo Freire adiciona: “Onde há vida, há inacabamento. Mas só entre mulheres e homens o inacabamento se tornou consciente” (FREIRE, 1996, p.50). Essa consciência de inacabamento é que nos faz emergir insatisfações criativas que dão sentido ao viver. Aqui floresce a arte.

Voltando à entrevista de Vargas Llosa, ficamos com sua mensagem final: é importante preservar (e incentivar) a arte e a cultura, não apenas como entretenimento, mas sobretudo “como forma indispensável de criar cidadãos livres, isto é, cidadãos críticos” (VARGAS LLOSA, 2013).

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Crédito de Imagem: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-11/no-rio-dia-da-consciencia-negra-e-comemorado-com-homenagem-zumbi

Referências Bibliográficas:

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

SHWEDER, Richard A. Mapas morais, conceitos de “primeiro mundo” e os novos evangelistas. in HARRISON, Lawrence E.; HUNTINGTON, Samuel E (organizadores). A cultura importa: Os valores que definem o progresso humano. Rio de Janeiro: Record, 2002.

VARGAS LLOSA, Mario. É necessário que a arte exista (entrevista). Fronteiras do Pensamento. 2013. (2 min). Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=tUagLka4YYU. Acesso em: 14 fev. 2022.