– Que tens, meu Joaquim, que te vejo tão casmurro?
– Estou a maquinar uma ideia, minha Carolina. Lembra-te de que falávamos sobre Madame Bovary, Anna Karenina e Luísa de O Primo Basílio?
– Falavas da parcialidade de suas narrativas masculinas, e o instigante que seria fazer falar a voz daquelas mulheres.
– Pois planejo um romance que levantará o contraditório da suposta adúltera.
– Querido, sabes que ninguém dá ouvidos às mulheres.
– Pois darei voz ao próprio marido. Quem advoga em causa própria acaba por advogar pela contraparte. Parcialidade descortinada, ganham luz dúvida e contraditório, coisas que não vi emergirem em debates sobre aquelas mulheres de Flaubert, Tolstói e Eça.
– Seria como um desagravo a elas?
– Talvez. Capeta não necessariamente é quem parece ser.
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