A educação em nossos Sistema de Ensino: agente de libertação ou de dominação?
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A educação em nossos Sistema de Ensino: agente de libertação ou de dominação?

Em sua “Pedagogia da Autonomia”, Paulo Freire afirma que “ensinar exige respeito aos saberes dos educandos”. No entanto, o modelo dominante de ensino privilegia culturas elitistas (língua, música, crenças e

  • Publishedsetembro 14, 2021

Em sua “Pedagogia da Autonomia”, Paulo Freire afirma que “ensinar exige respeito aos saberes dos educandos”. No entanto, o modelo dominante de ensino privilegia culturas elitistas (língua, música, crenças e valores), marginalizando as de massa. Alinhado a Freire, Pierre Bourdieu, diz que isso coloca os alunos de classes populares em desvantagem, perpetuando desigualdades.

Valorizamos o aluno curioso e engajado, mas, de acordo com o educador brasileiro Paulo Freire e o sociólogo francês Pierre Bourdieu, nosso sistema de ensino é castrador de identidades e reprodutor de desigualdades.

Bourdieu mostra, em seu A Reprodução: Elementos para uma Teoria do Sistema de Ensino, a ação pedagógica como violência simbólica legitimada pelas instituições para garantir o modelo de sociedade desejado pelas classes dominantes. Ele chama de Capital Cultural o fator que, empregado pelos sistemas de ensino, perpetua desigualdades forjando padrões e matando a pluralidade cultural nesse sistema de ensino pretensamente democrático e “para todos”. Esse modelo, privilegiando uma cultura elitista (língua, música, crenças e valores), marginaliza os alunos das massas que, inadequados, são cobrados a abandonar suas identidades para assumir o modelo dominante. Nessa desvantagem, segundo Bourdieu, esses alunos, com poucas exceções, vão avolumar a desigualdade perpetuada.

Bem antes da obra de Bourdieu, Paulo Freire já combatia, nas campanhas populares de alfabetização, o fenômeno de que trata o sociólogo francês.

Em sua “Pedagogia da Autonomia”, Freire afirma que “ensinar exige respeito aos saberes dos educandos”. Essa responsabilidade do educador em primeiro aprender o mundo do educando é outra interpretação possível ao seu “não há docência sem discencia“. Queremos alunos curiosos e engajados, mas a curiosidade nasce da diferença percebida entre seu mundo e o mundo que lhes é apresentado. Se lhes sonegam as referências de seu próprio mundo, colocando como negativos e indesejáveis seu falar e sua cultura, como esperar que eles desenvolvam o que Freire chama de “curiosidade epistemológica”? O ser humano é naturalmente curioso; o que mata sua curiosidade é essa castradora violência cultural da pedagogia dominante.

Nesse centenário do genial Paulo Freire, é oportuno lembrar desta importante lição de sua Pedagogia da Autonomia: “Uma das tarefas mais importantes da prática educativa-crítica é propiciar as condições em que os educandos [..] ensaiam a experiência profunda de assumir-se”. Assumir-se é a base para sua verdadeira e autônoma transformação.

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Referências bibliográficas:

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

Bourdieu pensa a educação [livro eletrônico]: a escola e a miséria do mundo / Julio Groppa Aquino, Teresa Cristina Rego (organizadores). São Paulo: Editora Segmento, 2014.

Written By
Gilberto Vitor

Escritor, pesquisador independente - Literatura, Filosofia, Linguística.

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