Amor e sexo na maturidade: menos tabus, mais qualidade de vida.
Para Simone de Beauvoir, a velhice não é somente um fato biológico, mas também um fato cultural. Nossa cultura estabelece, por estereótipos e tabus, um espaço muito estreito de comportamento
Para Simone de Beauvoir, a velhice não é somente um fato biológico, mas também um fato cultural. Nossa cultura estabelece, por estereótipos e tabus, um espaço muito estreito de comportamento aceitável para os idosos. Nessa censura tácita, mas impiedosa, é a vida amorosa e sexual a mais afetada.
O sexo na maturidade: esse foi o objeto da campanha por fotos e frases em outdoors nas ruas de Londres, da “relate.org.uk”, denominada “Let’s talk the joy of late life sex” (“Falemos das alegrias da vida sexual madura”, em tradução livre), com objetivo de quebrar tabus nesse tema de que pouco se fala..
A idade não apaga a capacidade de amar nem os desejos de sexo, mas os preconceitos fazem as necessidades de afetos sexuais arderem reprimidas no desassossego daqueles que atingiram a velhice.
Simone de Beauvoir declinou-se sobre o tema e, aos 62 anos, escreveu seu livro “A Velhice”. Nele, denuncia o tratamento desumano que nossa cultura burguesa dispensada aos velhos. Ao longo da vida, somos induzidos a ignorar a velhice futura que, a menos que nos apanhe morte prematura, chegará inevitavelmente associada à solidão, ao preconceito e à desesperada necessidade de aceitação de si próprio – Beauvoir diz “o velho é sempre o outro”. Temos dificuldades em nos aceitar como idosos.
Beauvoir disseca os fatores físico e mental que determinam a velhice. E aponta um terceiro fator, mais cruel porque agrava os outros dois: o social. Para ela, a velhice “não é somente um fato biológico, mas também um fato cultural”.
Nossa cultura estabelece, por estereótipos e tabus, um espaço muito estreito de comportamento aceitável para os idosos. Aos velhos é negado o direito de tratar de sexo, de desejo e de paixão. A censura tácita ou explícita logo se manifestará se um idoso se afasta desses “padrões”. Afetando a autoconfiança e a autoestima, diz Beauvoir, essa cultura repressora afeta os fatores físico e psicológico, comprometendo as qualidades de vida e de saúde.
A campanha da “relate.org.uk” (https://www.relate.org.uk/later-life-sex) exalta a importância das manifestações do sexo na maturidade, sejam nas trocas ternas ou nas mais picantes; sejam nas relações estáveis ou nas aventuras casuais.
Vencendo tabus, a maturidade que traz sabedoria de viver trará também confiança para conversar e descobrir mais de sexo à medida que se envelhece, o que favorece mais saúde.
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Crédito de imagem: Fotografia original por @rankincreative
Referências bibliográficas:
BEAUVOIR, S. A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.
2 Comments
Muito bom texto Gilberto!
Há pouco minutos atrás um primo me falava da preocupação com um filho dele que confessou à mãe querer viver apenas até 60 anos!
Tem medo da velhice. Nem percebe o quanto lhe foi culturalmente estabelecida a velhice aos 60 anos.
Obrigado, Jadeildo 🙂