Gregório de Matos e o pecado: Que não se negue a Deus a glória do perdão.
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Gregório de Matos e o pecado: Que não se negue a Deus a glória do perdão.

De como o poeta seiscentista Gregório de Mattos conciliou a fraqueza da natureza humana com a misericórdia, predicado sagrado da natureza divina.

  • Publishedoutubro 19, 2021

De como o poeta seiscentista Gregório de Mattos conciliou a fraqueza da natureza humana com a misericórdia, predicado sagrado da natureza divina.

Ah!, o pecado, esse tempero do viver.

(Que não se confunda pecado com crime – este, diferente daquele, é a ação ou omissão que prejudica o próximo, e está tipificado em lei.)

Como os pecados são impulsionados por desejos naturais, Santo Tomás de Aquino apressou-se em explicar: “Todo pecado se fundamenta em algum desejo natural e o homem, ao seguir qualquer desejo natural, tende à semelhança divina, pois todo bem naturalmente desejado é uma certa semelhança com a bondade divina”.

Oscar Wilde, em “O Crítico como Artista” (1891), escreveu: “Pela curiosidade que provoca, o pecado amplia a experiência da humanidade. Por sua intensa afirmação do individualismo, salva-nos da monotonia do modelo. Em sua rejeição implícita das noções aceitas de moralidade, constitui uma ética mais elevada”.

O mesmo Wilde nos socorreu a todos em “O Leque de Lady Windermere” (1892): “Posso resistir a tudo, menos às tentações”.

Mas foi o poeta baiano Gregório de Matos que, no século XVII, nos deixou esta obra prima no soneto “A Jesus Cristo Nosso Senhor”:

Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
De vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado
.

Se basta a vos irar tanto um pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e já cobrada,
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História,

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada.
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.

Para o poeta, o mesmo pecado que ofende a Deus lisonjeia-o pela oportunidade de exercer o perdão, que é o seu maior predicado e sua maior glória.

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Referências bibliográficas:

MATOS, Gregório de. Antologia / Gregório de Matos e Guerra. Seleção e notas de Higino Barros. Porto Alegre, L&PM, 2009

WILDE, Oscar. O melhor de Oscar Wilde / organizado por Karl Beckson. Tradução de Dau Bastos. Rio de Janeiro: Garamond, 2000

Coleção Os Pensadores: Tomás de Aquino. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

Written By
Gilberto Vitor

Escritor, pesquisador independente - Literatura, Filosofia, Linguística.

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