Inveja: o pecado secreto de todos nós.
Coube ao jornalista Zuenir Ventura tratar da inveja para a coleção Plenos Pecados (editora Objetiva). Seu livro, Mal Secreto, é a narrativa de sua odisseia na pesquisa sobre o tema,
Coube ao jornalista Zuenir Ventura tratar da inveja para a coleção Plenos Pecados (editora Objetiva). Seu livro, Mal Secreto, é a narrativa de sua odisseia na pesquisa sobre o tema, e que resultou em algo entre ficção e jornalismo, conto e ensaio.
Tomás de Aquino esclarece, em sua Summa Theologica, que por inveja não se entenda desejar o que o outro tem, mas “sofrer pelo fato de o outro ter”. Com esse sentido, parece ser o mais desonroso dos vícios – muitos de nós admitimos os demais pecados, mas ninguém admite ser invejoso.
Insidiosa, a inveja faz a infelicidade do invejoso e pode arruinar o invejado. O que move o invejoso não é ter glória igual à do invejado, mas desejar que o outro a perca. O desejo de ter igual ou maior triunfo pode dar lugar à competição construtiva. Porém, ocupado em desejar a ruína do invejado, o invejoso deixa de construir sua própria glória.
É famosa a rivalidade entre os geniais Schopenhauer e Hegel. O primeiro invejava o êxito do segundo como professor na Universidade de Berlin. Essa inveja deve ter temperado o espírito de sua obra. Hoje, Schopenhauer é mais lido e lembrado do que seu rival.
Evite-se, ainda, tomar por inveja a legítima indignação pela injusta fortuna alheia. Não é inveja o que se sente ante um sucesso desonesto.
A inveja se vê em qualquer época ou cultura. A Bíblia está cheia de exemplos, como é o caso dos irmãos Esaú e Jacó (Gênesis, 28) – este segundo enganou o pai e roubou o primeiro, mas Deus, estranhamente, abençoou o invejoso. Quanto aos irmãos Caim e Abel (Gênesis, 4:3-5), cabe reparação. Os dois ofertaram a Deus dos frutos de seu trabalho – Caim, agricultor, ofereceu-lhe dos frutos da terra; Abel, pastor de ovelhas, ofereceu-lhe do sacrifício de rês do seu rebanho. Mas Deus, sem justificativa, desprezou a oferta de Caim. Ora, qualquer bom pai teria a sensatez de não manifestar preferência por um filho em detrimento de outro.
Caim teria sido movido antes pela indignação da injustiça do que pela insídia da inveja.
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Imagem: https://www.psychologytoday.com/us/blog/beyond-cultural-competence/202004/5-telltale-signs-you-re-the-target-envy
Referências Bibliográficas:
AQUINAS, Thomas. The Complete Works of Thomas Aquinas (Catholic Publishing). Material compiled from Omaha-NE: Kindle Editions, 2018 (parte 1 do livro 2, questão 84, p.1951).
VENTURA, Zuenir. Mal Secreto (Inveja). Rio de Janeiro: Objetiva, 1998.