O amor se equilibra entre o pecado e a virtude.
Tenho Lido

O amor se equilibra entre o pecado e a virtude.

Como vimos nas postagens anteriores, os “pecados capitais” não compõem mero tema religioso, mas ideologia social que molda nossa visão de mundo e, afetando nossas escolhas, afeta nossa felicidade. Tomás

  • Publishedjaneiro 25, 2022

Como vimos nas postagens anteriores, os “pecados capitais” não compõem mero tema religioso, mas ideologia social que molda nossa visão de mundo e, afetando nossas escolhas, afeta nossa felicidade.

Tomás de Aquino aponta que os tais pecados respondem aos reclamos das “quatro inclinações da Lei Natural”: (1) a preservação da vida; (2) a preservação da espécie; (3) a harmonia social, e (4) a busca da felicidade. Diz Aquino: “as ações praticadas que visam à realização dessas inclinações naturais são ações moralmente aceitas e justificadas”.

Dessas quatro inclinações, a felicidade é uma demanda absoluta e está intimamente imbricada com a harmonia social. Na sua obra “O mal-estar na civilização”, Freud mostra que a sociedade, inventada para nos proteger das ameaças da vida selvagem, ela mesma nos impõe tantas proibições que acaba por nos causar sofrimentos (p.148). A harmonia social é, assim, o grande desafio para a felicidade.

Freud aponta, na mesma obra, que o caminho mais efetivo para a felicidade é uma “vida que faz do amor o centro de tudo” (p. 145). Mas, ele pondera, o amor não é solução fácil porque, quando amamos, ficamos mais vulneráveis ao sofrimento. Como nossos cérebros fazem tanto esforço por buscar prazer quanto para afastar a dor, acabamos por buscar receber amor mais do que dar.

A vaidade é filha dessa demanda. Desejar ser admirado não é questão de ego, mas de sobrevivência: na pré-história, o homem das cavernas que conseguisse mais seguidores no Youtube teria menor risco de ser abandonado naquele mundo inóspito. E ainda poderia contar com mais opções de parceiros que lhe dessem filhos de melhor genética. As quatro inclinações da lei natural de Aquino estão todas nesse exemplo. Por isso, todos ansiamos por ser admirados.

Como vimos, cada um dos “pecados capitais” tem sua contribuição para nossa felicidade. Porém, adverte Tomás de Aquino, importa o equilíbrio.

Mas… e a inveja? Sejamos honestos: todos carregamos no coração alguns gramas de inveja. Ao combatê-la, aprendemos que todos temos fraquezas. A inveja nos ensina a compreender as fraquezas do próximo.

Para nossa felicidade, são todos pecados redentores.

.

——-

magem: https://www.gratispng.com/

Referências Bibliográficas:

AQUINAS, Thomas. The Complete Works of Thomas Aquinas (Catholic Publishing). Material compiled from Omaha-NE: Kindle Editions, 2018 (parte 1 do livro 2, questão 84, p.1951).

FREUD, Sigmund. O Mal-estar na civilização in Os Pensadores. Tradução de José Octávio de Aguiar Abreu. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

Written By
Gilberto Vitor

Escritor, pesquisador independente - Literatura, Filosofia, Linguística.

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *