O homem da calçada vê a moça desligar os televisores da vitrine. Fim de expediente, noite de sexta-feira, ela ansiosa por chegar em casa. Que pena; ele gosta desses filmes de ficção científica — já pensou ter esse poder do mocinho?
Dor no peito. Diferente da de fome, sua velha conhecida. Loja fechada, estendeu um papelão aos pés da vitrine e se cobriu com outro. O frio da madrugada enganaria a dor; a dor distrairia o frio.
Este sábado calhou de ser feriado, talvez por isso não acorde à hora de costume. Comércio fechado, gente passando para o parque ali na esquina.
No domingo, passantes nauseados pelo fedor na rua — de onde vem isso?
Segunda-feira. A moça da vitrine vem abrir a loja. É quando cessa a invisibilidade do homem da calçada.
A moça chamou a emergência. Vieram recolher o corpo.