O outro poeta, o leitor.
Tenho Lido

O outro poeta, o leitor.

Para sentir a beleza que o artista tencionou, é a sensibilidade lírica no leitor que faz eriçar a pele ao ser tocado pela poesia.

  • Publishedmarço 21, 2022

Poesia é o que nos dá sentido aos sentidos caóticos de existir. Poesia na forma e nas palavras, porque a poesia entra pelos nossos sete sentidos – porque a poesia, para nos atingir, inventar os faltantes.
 
O poeta é um fingidor;
Finge tão completamente
Que finge ser dor
A dor que deveras sente” – Fernando Pessoa
 
Para se concretizar, a poesia exige ao menos dois poetas – de um lado, o que cria e transmite; do outro, o que recebe e sente.
 
O genial Oscar Niemeyer, que fazia brotar poesias em concreto armado, lamentou certa vez que a arquitetura se afastasse das Belas Artes para se mancomunar com a Engenharia. João Cabral de Melo Neto, outro de nossos poetas mais superlativos, quis provar que se pode escrever poesia sem necessariamente se ter a “inspiração virtuosa”, mas simplesmente arquitetando formas nas palavras e alinhando em esquadros, engenhosamente, os sentimentos do leitor.
 
De fato, com habilidades semânticas se pode dizer coisas bonitas sem se estar tomado de sentimentos profundos.
 
Mas, para sentir a beleza que o artista tencionou, não há arquitetura nem engenharia; somente a sensibilidade autenticamente poética faz eriçar a pele ao se ser tocado pela poesia.
 
O leitor é o outro poeta, o que faz emergir encantos no lado da recepção.
Neste 21 de março, dia mundial da poesia, parabéns aos poetas que criam e aos poetas que interpretam.
 

Written By
Gilberto Vitor

Escritor, pesquisador independente - Literatura, Filosofia, Linguística.

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