Arrasto meu corpo pelo chão úmido da mata, e daqui os vejo chegar trazendo mortes.
“Ó Guerreiros da Tribo Tupi,
Falam Deuses nos cantos do Piaga,
Ó Guerreiros, meus cantos ouvi.” *
Nunca cessaram de vir, meu poeta maranhense; mas agora eles vêm mais afoitos:
“Não sabeis a que vem, o que quer?
Vem matar vossos bravos guerreiros,
Vem roubar-vos a filha, a mulher!” *
Eles vêm roubar nosso chão, meu poeta. No papel branco da indiferença de um país entorpecido, suas balas assinam títulos de posse com a tinta do sangue de nossa gente.
“Anhangá de prazer há de rir-se,
Vendo os vossos quão poucos serão”. *
E a floresta segue agonizante, meu poeta. Eles não sabem que, derrubada a floresta, nem o agro nem as gôndolas se sustentarão de pé.
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(*) Trechos do poema O Canto do Piaga, do poeta maranhense Antônio Gonçalves Dias (✰ 1823; ✞1864)