O Sangue da Floresta
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O Sangue da Floresta

Narrativa curtinha para você enriquecê-la com sua sensibilidade.

  • Publishedjunho 21, 2022

Arrasto meu corpo pelo chão úmido da mata, e daqui os vejo chegar trazendo mortes.

“Ó Guerreiros da Tribo Tupi,
Falam Deuses nos cantos do Piaga,
Ó Guerreiros, meus cantos ouvi.” *

Nunca cessaram de vir, meu poeta maranhense; mas agora eles vêm mais afoitos:

“Não sabeis a que vem, o que quer?
Vem matar vossos bravos guerreiros,
Vem roubar-vos a filha, a mulher!” *

Eles vêm roubar nosso chão, meu poeta. No papel branco da indiferença de um país entorpecido, suas balas assinam títulos de posse com a tinta do sangue de nossa gente.

“Anhangá de prazer há de rir-se,
Vendo os vossos quão poucos serão”. *

E a floresta segue agonizante, meu poeta. Eles não sabem que, derrubada a floresta, nem o agro nem as gôndolas se sustentarão de pé.

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(*) Trechos do poema O Canto do Piaga, do poeta maranhense Antônio Gonçalves Dias (✰ 1823; ✞1864)

Written By
Gilberto Vitor

Escritor, pesquisador independente - Literatura, Filosofia, Linguística.

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