Psicologia das massas e redes sociais: você é livre para perseguir seus desejos, mas não para decidir o que deseja.

Se todo serviço privado é pago, e sendo os serviços das redes sociais (Instagram, Twitter, WhatsApp…) gratuitos, pergunta-se: de que maneira me fazem pagar por eles?

O ex-agente da CIA Edward Snowden afirma que, quando as corporações perceberam que as pessoas na internet se interessavam mais em compartilhar seus sentimentos e comportamentos do que em comprar, tiveram a ideia de usar isso a seu favor (SNOWDEN, 2019, p.11). Mas voltemos mais no tempo.

Na primeira metade do século XX, um sujeito chamado Edward Bernays usava a psicologia das massas para manipular hábitos e opiniões, e para ajudar a CIA em golpes de Estado na América Latina (VARGAS LLOSA, 2019). Seu livro Propaganda começa assim: “A manipulação consciente e inteligente dos hábitos e opiniões das massas é um fator importante na sociedade democrática. Quem manipula esse mecanismo oculto da sociedade constitui o governo invisível que detém o verdadeiro poder que rege o destino do país” (BERNAYS, 2016, p. 32).

Freud em seu livro Psicologia das Massas e Análise do Eu ensina que, quando em grupos, o indivíduo tem comportamento bem diferente de quando isolado: torna-se irracional e inconsciente. “A massa é extraordinariamente influenciável e crédula; [..] não conhece nem a dúvida nem a incerteza” (FREUD, 2021, p.50).

Os meios de comunicação manipulam-nos para vender produtos e “convicções” políticas. Para isso, usam as informações que as pessoas registram de si mesmas nas redes sociais (SNOWDEN, 2019). Seus algoritmos são feitos para classificar pessoas em grupos afins em expectativas e medos. no livro da psicanalista Nora Merlin (2020, p.9) lemos que “constroem uma civilização caracterizada pela obediência, pela submissão, pelo individualismo e pela identificação homogeneizante”.

Mas Freud (2021, p.66-67) ensina que a vacina contra a manipulação de massa é a pluralidade – dialogar com outros grupos de pensamentos divergentes; identificar as pluralidades existentes dentro do grupo (e entendê-las). Isso liberta, mas requer pensamento crítico.

Considerando que as escolas nos ensinam a responder, mas não a perguntar, ter pensamento crítico é o grande desafio.

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Imagem: Freepic.

Referências Bibliográficas:

BERNAYS, Edward. Propaganda: Cómo manipular la opinión en democracia (Spanish Edition), 1ª ed. Buenos Ayres: Libros del Zorzal, 2016).

FREUD, Sigmund. Psicologia das massas e análise do eu. Coleção L&M Pocket. Porto Alegre: L&PM, 2021.

LLOSA, Mario Vargas. Tempos Ásperos. Tradução de Paulina Wacht e Ari Roitman. São Paulo: Alfaguara, 2020.

MERLIN, Nora. Colonización de la subjetividad: Los medios masivos en la época del biomercado (Spanish Edition) Edição do Kindle, 2021.

SNOWDEN, Edward. Eterna vigilância: Como montei e desvendei o maior sistema de espionagem do mundo. Tradução de Sandra Martha Dolinsky. São Paulo: Planeta do Brasil, 2019.