Reformas trabalhistas e a precarização do emprego: O que o abolicionista Joaquim Nabuco diz sobre isso?
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Reformas trabalhistas e a precarização do emprego: O que o abolicionista Joaquim Nabuco diz sobre isso?

Foi Joaquim Nabuco quem nos alertou há mais de cem anos: “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil".A escravidão moderna é tal que o cativo

  • Publishedagosto 10, 2021

Foi Joaquim Nabuco quem nos alertou há mais de cem anos: “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”.

A escravidão moderna é tal que o cativo não percebe seus grilhões.

As recentes minirreformas trabalhistas somam-se a outras que vêm, nos últimos quatro ou cinco anos, retrocedendo os avanços sociais das últimas décadas. Vê-se uma contínua precarização das relações de trabalho, com exploração máxima do trabalhador por mínima contrapartida. Desenvolve-se novas formas de legalizar a relação de trabalho sem carteira assinada, denominando os trabalhadores de “empreendedores”, como se o nome fizesse o monge. Trata-se das forças de que fala Joaquim Nabuco em seu livro “Minha Formação”, onde ele alerta: “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”.

Mas tem cabimento falarmos em escravidão ainda no século XXI? É em outro seu livro, “O Abolicionismo”, que o mesmo Nabuco esclarece: “a palavra escravidão é tomada neste livro em sentido lato. Esta não significa somente a relação do escravo para com o senhor; significa muito mais: a soma do poderio, influência, capital e clientela dos senhores todos; o feudalismo, estabelecido no interior; a dependência em que o comércio, a religião, a pobreza, a indústria, o Parlamento, a Coroa, o Estado, enfim, se acham perante o poder agregado da minoria aristocrática”.

Dessa forma, o espírito da escravidão jamais abandonou a mentalidade das minorias que formam a elite econômica (nem de seus imitadores nas escalas mais baixas, pois sempre há alguém mais frágil para que um oprimido se exercite opressor). A cada avanço em direção a uma política civilizatória, reações conservadoras dessas minorias poderosas articulam o retrocesso.

Então, por que os escravizados modernos assistem a tudo como se tais retrocessos fossem coisas tão banais? É o professor-doutor em Antropologia Social José Sérgio Leite Lopes, em seu livro “A tecelagem dos conflitos de classe na cidade das chaminés” (tese de doutoramento) quem responde: “O vigor de uma forma de dominação pode ser avaliado por sua interiorização pelo próprio grupo dominado”.

A escravidão moderna é tal que o cativo não percebe seus grilhões.

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Referências bibliográficas:

LOPES, José Sérgio Leite. A tecelagem dos conflitos de classe na cidade das chaminés. São Paulo: Editora Marco Zero, 1988.

NABUCO, Joaquim. O abolicionismo (online). Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2011.

NABUCO, Joaquim. Minha formação. Ensaio introdutório de Evaldo Cabral de Mello. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2019.

Written By
Gilberto Vitor

Escritor, pesquisador independente - Literatura, Filosofia, Linguística.

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