O tapa de Frazão pegou cheio, gostoso, e o sujeito se estatelou no asfalto. “Levanta!”. Frazão gosta de ser obedecido, mas em casa Sônia agora tem o filho a defendê-la. Aquele moleque só cresceu para dar desgosto ao pai.
O infeliz se levanta. Esse mundo machuca a gente, não é, Frazão? Um soco nos superiores pela humilhação diária, e o desgraçado cambaleia. Rua sem câmeras, viu, Frazão? Um soco na indiferença do teu falecido pai, e o sujeito beija o chão. O infeliz implora sob teus pés. És poderoso, Frazão.
Tem coisa errada esse mundo. Um chute nos veados de sorrisos felizes – como ousam ser felizes? –, outro nos pretos e mais um nos humilhados que te lembram o que de fato és, não é, Frazão?
Chutes, mais chutes; a catarse dos recalques de origens nebulosas. O gozo.
Exausto, examinas o corpo. Acabou-se a terapia.
Já pensou, Frazão, se tua doença não seria, na verdade, uma tácita política de Estado?
