Entrara no sebo, como de hábito, buscando tesouros. Foi quando, espremido na prateleira mais baixa, lhe chamou a atenção um Vargas Llosa de capa familiar, primeira edição, de quase vinte anos: “Travessuras da Menina Má”. Na dedicatória, sua caligrafia: “Para X, no Dia dos Namorados, o primeiro de nosso amor eterno”. Não houve segundo.
Por onde andaria ela? Casada? Filhos? Leu meu presente? O marcador de páginas que o acompanhava fundia seu azul sobre o amarelado das folhas.
Livro na mão, dirigiu-se ao caixa; repassou em memória os dias felizes daquele amor. Não foi eterno em extenso, mas o foi em profundo. Não queimou como madeira, rastilhou como pólvora. Até que, numa travessura, a menina má lhe fez saber que há eternos que não duram.
Parou, hesitou, olhou o livro, voltou, deu-lhe seu último sorriso e o repôs na estante.