A Vila Operária e o Haras
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A Vila Operária e o Haras

Narrativa curtinha para você enriquecê-la com sua sensibilidade.

  • Publishedabril 4, 2023

— Leu no jornal, coronel? Festa dos quarenta e cinco anos da Lei Áurea.

— Sim, viu? A escravidão era uma barbárie. 

— Agora, sim, um país civilizado. Como a sua fábrica.

— Escravos empatavam muito dinheiro.

— E prejuízo, se o negro morria antes de pagar o investimento.

— Isso acabou. Preto, branco, sarará, agora é tudo de graça. 

— O que era custo de manutenção agora é salário. 

— Não temos mais senzalas. Agora, mantemos trabalhadores em vilas operárias. 

— Praticamente dentro da fábrica.

— Deixo plantarem seus leirões na várzea do rio. Ocupação nobre para horário de folga, e completam seu sustento.

— Famílias crescem…

— Nascendo filho, com dez anos tenho aprendiz. Menino ocupado, doze horas de descanso para as mães.

Entra o cuidador dos cavalos de raça:

— Coronel, o mijo do Mossoró está escuro.

— Já chamou o doutor?

— Eu pensei…

— Pensou o quê, seu manzanza? Avia! 

O cuidador sai.

— Sim, viu? Cuidados e alimentação caríssimos, mas adoecem. É de tirar o sono.

— O senhor tem muito zelo por seus cavalos, não é, coronel?

Written By
Gilberto Vitor

Escritor, pesquisador independente - Literatura, Filosofia, Linguística.

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